quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A chuva continua a cair. O som da chuva nas folhas das bananeiras é como o som das gotas quando caem na tela do guarda-chuva. Com a janela aberta chega-me a melodia de dezenas de guarda-chuvas, nos quais a água goteja incessantemente fazendo música quente. À mistura ouço Schubert. As nuvens brancas descem em farrapos até ao nível da minha varanda. Parece um sonho envolto em névoa e dezenas de guarda-chuvas abertos. Um tempo assim, pede uma caneca de chocolate quente, daquele com leite gordo e rum. Já o tenho na mão. Adoro o Outono. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Chegou o Outono. E com ele, as primeiras chuvas. Abro a janela para me deliciar. Adoro o som da chuva a cair nas folhas das bananeiras. Adoro o cheiro fresco da terra lavada.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Vitral de Sombras

     "Raios de sol perfuram a persiana entrando quarto adentro. Ele acorda sem a certeza de ter já acordado. Sente o cheiro dos dois jacintos púrpura, crescendo na beira da janela. Bolbos em frascos de água. Primeiro, semanas de escuridão, e na escuridão crescem raízes e despontam as primeiras folhas. Mais umas semanas de sol, e belas flores emergem com um aroma inebriante. [...]
     Ele obriga-se a levantar, e a primeira coisa que faz é subir a persiana ao máximo, para levar um banho, um embate de luminosidade nos olhos e na pele ainda cheirando a sombras e a sonhos."

Este é um pequeno excerto do meu conto "Vitral de Sombras", para o lerem na totalidade, cliquem AQUI.

terça-feira, 10 de abril de 2012

a febre

hoje parece que descobri uma coisa nova. embora já a soubesse à muito tempo. uma ideia nova da qual me estou a aproximar, quase como uma revelação. ainda não sei o que é, mas mal acordei não quis ficar na cama. hoje soube que o meu dia não ia ser em branco, mesmo que a tela continue em branco, estou à espera de uma revelação. há um frenesim, um burburinho que me corre nas veias. 
mergulhei de novo na corrente do mundo, tanta coisa por explorar, tanta arte, tanta criatividade, tanta música, tanta loucura. espero que a febre se apodere de mim. que cresça e não esmoreça. que me venham as noites de insónia, de suor, de loucura, de trabalho, de intenso prazer. 
hoje estou a aproximar-me de mim. o delírio da-me sinal. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

a culpa dos dias em branco

os dias passam e eu carrego o peso da tela em branco. e cada dia que passa a tela é maior, e a tarefa de a pintar mais difícil. 
sabes que o teu dia vai ser em branco e nem queres acordar para ele. 
sabes o que é preciso fazer, e por algum motivo não consegues. tens consciência e a certeza de que o teu dia vai ser em branco, aquele pesadelo todo branco que te envolve. mas não sabes como o mudar.
e já não tens uma tela. é uma membrana branca que te envolve todo, que te vai sugando o ar, que se cola viscosa à tua pele. 
é a culpa dos dias em branco. 
e assim vais andando em dias cheios de nada. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"There are two things scarce matched in the Universe the sun in heaven and the Thames on Earth."



Ir a Londres começou quase numa brincadeira, com o pretexto de irmos ver uma exposição de orquídeas organizada pela Royal Horticultural Society!
Eu nunca tinha saído do país, pelo que não sabia qual seria a sensação de aterrar num lugar de língua, cultura e aspecto diferente.
Digo-vos que ia um pouco reticente, imaginava Londres cheia de cimento, cinzenta, muita confusão, pessoas antipáticas... 

As coisas começaram por correr de forma atribulada... No dia da partida, chegados ao aeroporto com tempo, tranquilos, disseram-nos num repente que o nosso voo tinha sido cancelado, para irmos a correr a um balcão a ver se ainda apanhávamos o avião para Lisboa, pois o nosso já não existia e tínhamos de fazer voos de ligação! E lá fomos nós a correr, na maior das aflições, a pensar que raio era aquilo!
Depois de muito corrermos, de nos apoquentarmos, de muito esperarmos, lá conseguimos chegar a Londres apanhando três aviões! Mas a saga da partida não terminava aqui... Supostamente sairíamos no terminal Norte de Gatwick, mas fomos bater ao Sul, um edifício mais antigo, cinzento, em que todas as pessoas que chegavam eram encaminhadas para o mesmo átrio, em que estávamos todos tipo gado, à espera de sermos carimbados, para passar a fronteira... Para ajudar à festa, no meio da multidão encontrava-se uma claque de futebol barulhenta e já escoltada pela polícia...
Bem, eu só pensava: "Mas onde é que nos viemos meter!...", e a minha apreensão aumentava a cada trinta segundos. Esperamos na fila, no meio da multidão, e não me conseguia decidir se parecia que estávamos à espera da sopa dos pobres, ou na segurança social a pedir o rendimento mínimo...

Contudo, passando a "fronteira" toda a minha apreensão começou a desaparecer, e eu rapidamente comecei a destruir as minhas ideias pré-concebidas! 
O aeroporto era super calmo, organizado e quando nos sentamos num café para recuperar energias e beber algo quente, dei logo conta de uma diferença substancial (para além do café expresso ser caríssimo, e fazerem diferença de preço entre curto ou comprido...) em relação à pátria. As pessoas falavam baixo entre si, e reinava no café um silêncio estranho em relação a um café português, em que as pessoas (e falo por mim) se entusiasmam com a conversa e passado pouco tempo estão todas a gritar e a rir, e é um chinfrim sem igual, tipo cantina de escola.

Apanhamos um comboio e seguidamente o metro até Camden Town, cidade onde íamos ficar, e foi tudo relativamente muito simples, sem confusões, ou enganos, e até da estação de metro ao apartamento, não nos enganamos uma única vez, graças à perícia do J. em ler mapas e em se orientar! Eu sozinha, a esta hora ainda estaria à procura do lugar! 

Pousamos as malas e toda a carga irritante, e fomos logo explorar a zona! 
Camden Town era a loucura. Lojas que pareciam saídas de bandas desenhadas, do gótico ao psicadélico, da chinesada à robótica. Tudo à mistura com bancas de comida, uma miscelânea de cheiros que pareciam um máximo na primeira noite, mas que nas seguintes já causavam o maior dos enjoos.  
O certo é que eu estava fascinada, nem acreditava que estava em Londres, a ver lojas de robôs gigantes à porta, e outras de esculturas de cavalos mais gigantes que os ditos robôs, lojas de discos usados,  de artigos em cabedal com o artesão a trabalhar no momento, de quinquilharias, livros, bijutarias...
Lojas diferentes, pessoas diferentes, cheiros diferentes, sons diferentes. E eu ria, sorria, só me faltava dar pulinhos de alegria!

Nos três dias seguintes praticamente corremos por Londres, queríamos ver tudo! 
Acordávamos cedo, e era caminhar com aceleração,  apanhar metros, caminhar mais, fotografar, beber chocolates quentes, caminhar mais, ver mais, fotografar mais, metros mais!
Mercados Londrinos fantásticos, catedrais, edifícios antigos versus futuristas,  o Tate Modern com exposições de obras de arte interessantíssimas, bem como a sua loja de lembranças em que apetecia comprar quase tudo, as pontes, o Big Ben, mais majestosas catedrais, Downing Street, monumentos, exposição de orquídeas, Buckingham Palace, Tower Bridge, British Museum, e o Underground que nos leva a todo o lado... Bem como os nossos pés e de tanto andar, ao segundo dia tinha tamanha dor num pé, como se me tivessem rasgado um músculo. Mas nem isso me parou, não queria saber, andei mais lentamente, mas arrastei-me feliz, apesar das dores, por Londres! 

Claro que comemos fish and chips e bebemos cerveja com sabor a verdadeira cerveja nos famosos Pubs, como adorei o ambiente dos Pubs, a comida, a simpatia... Ai London... Que saudades...
As pessoas são muito simpáticas, sorridentes, bem arranjadas e perfumadas, mesmo o metro cheio de gente ao fim do dia não cheirava a coisas duvidosas... 
Que agradável surpresa foi Londres para mim.
Apanhamos sol, dias lindos e só um dia de chuviscos. 
Parece que toda a Londres se organizou para me quebrar todos os estereótipos que tinha em relação a ela.

E o Thames... Oh... Apaixonei-me por aquele rio. Não sei o que tinha, mas sentia-me maravilhosa de cada vez que o atravessava por uma das pontes. Dava-me vontade de sorrir, sentia-me leve, e só me apetecia trazer as minhas canetas, lápis, blocos e livros, e sentar-me nas suas margens, num belo parque e deixar a minha imaginação galopar sem freio. 

Londres é bonita, é muito bonita. Belos parques e jardins, transborda de cultura, diversidade, antiguidade e modernismo.
Londres conquistou-me, o Thames apaixonou-me, sem sombra de dúvida que vou lá voltar, com mais tempo, para desfrutar e absorver ao máximo o fervilhar daquele mundo.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Boris, o gato menino que às vezes parece um cão


Ainda não vos contei, mas temos mais um membro na família há já uns bons meses.
Foi encontrado na rua, muito sujinho, maltrapilho, cheio de fome, apenas com três bigodes tortos, e a estrangular na sua própria coleira, que não acompanhou o seu crescimento e teve de ser cortada para ser retirada. Tinha apenas uns quatro meses, e precisava desesperadamente de um lar.
Foi assim que chegou a nossa casa, a 11 de Agosto de 2011. 
Chamamos-lhe Boris e o nome assentou que nem uma luva. Um nome engraçado, para um gato com um ar um tanto ou quanto cómico. 
Boris, o gato de três bigodes tortos, com olhos de cachorrinho abandonado, que ronronava (era mais roncar) tão alto que parecia um tractor. Parecia-nos incrível, como é que uma coisa tão pequenina podia fazer tanto barulho. Hoje em dia, o ronronar dele já é mais normal, mas ressona quando está a dormir...
A nossa querida Daisy é que se sentiu ameaçada com esta nova presença felina.
De cada vez que ele se aproximava, ela bufava-lhe muito, mas ele não ligava nenhuma, continuava atrás dela, sem ligar às ameaças, até que a Daisy se via obrigada a uma intimidação mais forte e começou a rosnar, sim, a rosnar como os cães!! Um barulho tremendo! Eu nunca tinha ouvido um gato a rosnar, e nunca pensei que esta princesa conseguisse fazer tal barulho. Mas nem os roncos rosnados, assustavam o Boris, o pequeno não demonstra medo a nada...
Até o aspirador que faz fugir a Daisy, como se um demónio a arder tivesse visto, é motivo de brincadeira para o Boris.

O Boris é um maluquinho, um menino muito engraçado, que corre até nós quando nos levantamos de manhã, que salta para as nossas pernas, que mia como se fosse o gato mais solitário do mundo, quando lhe fechamos a porta do quarto, por não nos deixar dormir um pouco mais de manhã... 
- Murrauuuu, murrauuuu, murrhhahauuuu.... 
Sim, é assim que ele mia, até no miar é diferente... O Borinho, como lhe chamou uma vez a nossa amiga chinesa.
Quando é para comer, é o primeiro, o mais veloz, sempre atento, à espera que caiam migalhas ao chão... Come muito rápido, quase aspira as suas pepitas, em vez de mastigar, para a seguir tentar roubar algumas do prato da Daisy.
Uma vez demos-lhe um pedaço de salsicha, ele gostou tanto, que enquanto a comia começou a rosnar, com medo que alguém lhe tirasse tal manjar...E nós aflitos, a pensar que ele estava a morrer engasgado, tal era o barulho que fazia ao comê-la...

Boris, o que apanha todas as moscas, o que mastiga em seco quando pensa em comida, o que inclusive nos rouba o que estamos a comer, se não estivermos atentos... Um dia estava eu a ver televisão, distraída a comer um croissant, e algo em voo arranca-mo das mãos, não tive tempo nem de pestanejar... Depois queria ralhar com ele, mas perante tal situação, só me apetecia rir.
Às vezes passa qualquer coisa por ele, que o deixa histérico, faz muitos murrahahauuuussss, profundos, sonoros e longos, corre pela casa toda, trepa móveis, televisão, paredes, vai contra tudo o que está no caminho, parece um furacão este Borinho!
Mas logo depois acalma, e é um doce, sempre procurando o colo e as pernas do J., que prefere às minhas...
Muito curioso, olhar arregalado, expressão de menino inocente. Tão tontinho às vezes, que por mais asneira que faça, nunca conseguimos ficar muito tempo chateados com ele.
A Daisy já não lhe rosna, é carinhosa e muito paciente com ele, atura-lhe imensas arrelias, e por vezes até dormem bem juntinhos.
Chegou sem bigodes e fraquinho, e logo conquistou profundamente o nosso coração.
Este gato menino, que às vezes parece um cão.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um jantar maravilhoso

A pequena Sofia foi jantar a casa da prima Margarida. Uma prima muito querida para ela, de quem gosta muito, e a quem já não via há muito muito tempo. 
Nesse jantar estavam pessoas de quem a pequena Sofia gosta muito. A outra prima Margarida, os tios... Parecia Natal outra vez e a Sofia estava felicíssima!
Queria ouvir todos, falar com todos, brincar com todos...
O jantar estava maravilhoso, e até a sopa, a que a pequena Sofia costuma torcer o nariz, sabia deliciosamente bem.
A noite estava quente e brilhante, ainda com cores natalícias, um presépio de algodão, e a gata preta marcando a sua presença. 
Mas a bela e quente noite familiar, chegou ao fim, e com muita pena sua, Sofia teve de voltar a casa...

Quando se deitou para dormir, a pequena Sofia rebentou num pranto... Chorou profundamente, e perguntaram-lhe com preocupação, o que tinha ela...
Sofia, entre soluços saídos do fundo do peito e lágrimas gordas, respondeu:
- É que gosto muito de todos eles, e a noite passou muito rápido... Não ouvi o que todos falaram, não falei tudo o que queria falar, e pareceu tudo tão rápido que já nem me lembro de tudo...
E a pequena Sofia chorou, soluçou com a cabeça enfiada no colo de quem lhe dava amor, chorou a saudade de todos, que a noite não foi suficiente para matar...
Com os olhos cansados e o travesseiro molhado, respirou fundo e adormeceu...